58 anos de Renato Russo
Um breve relato sobre compositor de rock que personalizou a juventude brasileira da década de 80
27 de março. Hoje é um dia que deve ser comemorado pelos admiradores do rock nacional, principalmente da década de 1980. Época em que jovens de 18 e 20 anos tinham o que dizer. Montavam bandas em garagens de suas casas e sem saber tocar direito com seus instrumentos baratos transmitiam ideias com músicas e poesias que contestavam a política da época e demonstravam as angústias da idade. Geralmente de maneira ingênua, porém de forma brilhante e inteligente.
E um destes nomes se sobressaiu diante dos colegas de geração e ficou marcado na história da Música Brasileira. Renato Manfredini Júnior, conhecido popularmente como Renato Russo. Ainda bem jovem, começou a trabalhar profissionalmente como professor de inglês e jornalista. E de forma paralela a compor canções influenciadas pelos seus ídolos. Ouvia de John Lennon a Sex Pistols. No fim da década de 1970, tornou-se punk e extravasou os sentimentos na histórica banda Aborto Elétrico.
“Quando tive a oportunidade de ver pela primeira vez apresentação do Aborto Elétrico foi um impacto muito grande. Naquela época ele já cantava ‘Que País é Este’ e os jovens de nossa turma dançavam de maneira agressiva. Não consegui entender se gostava daquele som, mas impressionou. Era muito diferente do que estava acostumado. Era fim da década de 70”, afirma Kadu Lambach, primeiro guitarrista da Legião Urbana, que era conhecido como Eduardo Paraná.
E de forma caseira e amadora com os seus K7s e shows barulhentos, o Aborto Elétrico foi precursor do punk rock no Brasil e fez história. Em seguida, Renato amadureceu mais e após uma breve “carreira solo”, que denominou como Trovador Solitário, formou a Legião Urbana, banda de rock que vendeu mais álbuns no segmento e pautou uma geração, descrevendo as características de Brasília e do país pós-regime militar.
E desde muito cedo Renato Russo já escrevia suas composições sem saber ao certo quais seriam os destinos delas. Algumas chegaram a fazer parte do repertório de sua consagrada banda Legião Urbana, outras dos amigos do Capital Inicial e algumas gravadas por demais artistas.
“Desde cedo meu irmão produzia muito. No início eu me lembro dele fazendo estes manuscritos, ainda na década de 1970, acho que 1977. Ele não tinha o costume de datar e até hoje é difícil de saber quando foi escrito”, afirma Carmem Manfredini, irmã de Renato Russo.
No decorrer da década de 1980 participou e liderou em álbuns clássicos da Legião Urbana, como o primeiro, “Dois” e “Que País é Este”, com atmosfera mais pesada, juvenil e pós-punk.
A partir dos anos 90, seu perfil se tornou mais espirituoso com os discos “As Quatro Estações”, “V” e “Descobrimento do Brasil”. Finalizou sua carreira na Legião com a gravação do dramático “A Tempestade ou Livro dos Dias”, com a gravação de somente sua voz guia, devido ao agravamento do vírus HIV, que o levou à morte poucas semanas depois. Sua despedida aconteceu em outubro de 1996.
Algumas gravações póstumas da Legião foram ainda lançadas em “Uma Outra Estação” e, como intérprete solo, Renato lançou CDs cantando canções italianas e populares norte-americanas, sem se preocupar com crítica e público.
Desde então, a obra de Renato Russo vem conquistando novas gerações. Apesar de breve carreira, seus álbuns continuam sendo ouvidos por pessoas de todas as idades, seja em LP, CD ou MP3. O público sempre renova e, no Brasil, não para de “pipocar” bandas que fazem cover de Legião Urbana. Um dos fatos que ajudam a perpetuar a obra do poeta do Planalto Central. Renato deixou letras e composições que permanecem inéditas. Os inúmeros fãs aguardam a publicação deste rico material que registra parte da história de uma geração.
André Molina