Novo morador de Curitiba é cantor de banda cult do rock nacional

O novo morador de Curitiba Eduardo de Moraes tem uma trajetória de história no cenário do rock nacional da década de 1980. Ele é vocalista da banda Finis Africae, que surgiu em Brasília na onda do rock brasileiro, impulsionada por bandas como Legião Urbana, Capital Inicial e Plebe Rude.

A Finis Africae é considerada a banda melhor sucedida da segunda geração do rock oitentista brasiliense. Após fazer parte da coletânea Rumores (1985) e lançar um EP, foi contratada pela gravadora EMI por indicação do Renato Russo, líder da Legião Urbana, e gravou um LP.

Ao emplacar sucessos como “Armadilha”, “Ética”, “Van Gogh”, “Deus Ateu” e “Mentiras” a banda realizou turnês e shows pelo Brasil, participou de programas de auditório como o “Cassino do Chacrinha” e outros, até sentir os efeitos da crise econômica do fim da década e ser dispensada pela gravadora. O fato foi comum com muitas bandas, que estavam decolando naquela época.

Porém, o Finis até hoje é citado por fãs do rock nacional e bandas da época. O sucesso “Armadilha” chegou a ser regravado pelo Biquini Cavadão em 2001 em um álbum com canções nacionais que a banda considera de grande importância na década de 1980.

Após o instantâneo sucesso, o cantor se mudou para a Suécia e passou anos por lá, mas sem largar os trabalhos musicais. De tempos em tempos reúne a Finis Africae para realizar shows e fazer gravações.

Em 2019 deixou o Rio de Janeiro e se mudou para a capital paranaense. Em pouco tempo se entrosou com músicos, poetas e jornalistas que frequentam o bar “Gostinho da Tetê”, no Alto da XV. O cantor foi apresentado por um amigo de longa data de Brasília: o músico curitibano Kadu Lambach, conhecido na Capital Federal como “Eduardo Paraná”, o primeiro guitarrista da Legião Urbana.

Em sintonia com a “Turma da Tete”, Eduardo já começou a compor com artistas locais como o músico Ferreira, que fez parte da histórica banda curitibana “Beijo AA Força” e o poeta Sergio Viralobos, da pioneira “Contrabanda”, uma das primeiras do punk das araucárias.

Atualmente, Eduardo continua tocando o Finis Africae. Além dele como membro original, a banda conta com o baterista Ronaldo Pereira, que deixou as baquetas e se tornou produtor do grupo.

No início do ano, o Finis lançou o novo single “Santa Júlia” nas plataformas digitais e se apresentou no Teatro Rival, no Rio de Janeiro. Para os próximos meses tem a intenção de lançar novas músicas, que serão apresentadas no meio do ano em show de abertura para a Plebe Rude no Circo Voador, no Rio de Janeiro.

E como outro frequentador da “Turma da Tete” estive no Alto da XV para conversar mais uma vez com Eduardo de Moraes. Mas desta vez a conversa foi registrada:

Você esteve no Rio de Janeiro recentemente para o lançamento de uma música nova do Finis Africae em show. Como foi?

Em 2017 e 2018 esta formação nova elaborou um repertório todo novo. E optamos por questões mercadológicas e financeiras fazer lançamento mês a mês. Hoje em dia é assim. De Radiohead a Anitta a prática é esta. É uma tendência atual. Conseguimos viabilizar e gravar as quatro primeiras, estamos mixando e a cada mês produzimos um vídeo. A primeira que lançamos foi “Santa Júlia”, agora vamos lançar uma chamada “Abrolhos”. Nós aproveitamos o show de lançamento que aconteceu em janeiro no Rio, no Teatro Rival e pedimos para os fãs gravarem com o celular. Fizemos um banco de imagens com todas as imagens produzidas e vamos editá-las para fazer o vídeo. Faríamos um lançamento que seria agora em fevereiro, mas deixamos para lançar no Circo Voador (Rio de Janeiro), no show da Plebe Rude, que vamos abrir.

Qual a diferença do Finis Africae de hoje em relação ao dos anos 80 que gravou o primeiro LP em 1987, pela EMI?

Eu escrevo os textos. Os temas abordados, a forma de escrever e a parte poética têm muito a mesma pegada. A sonoridade já é outra completamente diferente. São músicos que se conhecem há 30 anos. Nelsinho que era do Kongo, o Cesár que era guitarrista do Coquetel Molotov , um dos primeiros grupos punks do Rio de Janeiro. O baterista tocou com Lobão e hoje está na banda do B Negão. Eles têm uma maturidade de palco de muito tempo. Respeitamos o diálogo musical dos músicos quando compõem e quando interpretam. Mudou muito a sonoridade. No entanto, “Santa Júlia” é uma música punk. Coisa que não fazíamos. Éramos mais funk. Surgiu naturalmente.

No Rio de Janeiro o lançamento contou com o cantor Guilherme Isnard do Zero

Sou amigo do Guilherme há 40 anos e nunca desenvolvemos algo. Não é impossível de compormos. Gosto muito do trabalho dele. Ele tem um trabalho inédito ainda a ser lançado. Fiquei super impressionado quando ouvi. É bem diferente do que o Zero fez, que tem uma proposta progressiva, meio complexa. Agora é algo mais direto, objetivo. Uma pegada forte, ainda com o Zero.

Desde quando você está em Curitiba?

Eu me mudei há um ano. Eu tive um mestre de cerimônia, que foi o Kadu Lambach (Eduardo Paraná), e comecei a frequentar o Bar da Tete e conheci um pessoal. E já estamos até tocando algumas coisas. Com o Kadu já participei de alguns shows dele cantando músicas do Finis.

Como surgiu esta parceria com músicos curitibanos que acabou em uma composição?

Surgiu do Bar da Tete. Saímos daqui, fomos para a casa do Sergio Viralobos e gravamos. O Ferreira tocou o violão (Maxixe Machine e Beijo AA Força), mas está em construção. Eu escrevi uma parte da letra, o Sergio veio com uma outra e começou. O nome da música é “Estacas”. Fala sobre o vampirismo entre as pessoas. Como uma relação se estabelece e uma pessoa vampiriza a outra. Ainda está na voz e violão.

Como você disse o Finis tinha uma influência funk nos anos 80 e agora tá mais punk. Como você vê esta soma de influências na música da banda?

Os jornalistas sempre perguntavam para a gente quais as nossas principais influências. E respondíamos: Madonna, Prince e Michael Jackson. Tudo o que não queria fazer. Isso já vai demonstrando aonde você quer chegar com seu trabalho. Ou aonde você não quer chegar. É uma referência. Você começa pressionado com aquilo que te incomoda. A influência que você não quer ter. Uma das dificuldades do artista é saber aonde quer chegar.

Em Brasília eu assisti o Aborto Elétrico (primeira banda de Renato Russo) na UNB e foi um grande impacto. Quando terminou o show quebraram as caixas de som. Uma atitude que influenciava a maneira de o público se vestir e se comportar. Isso foi uma influência para muitas bandas em Brasília.

ENTREVISTA: André Molina

FOTO: Elias Nogueira – Show Finis Africae no Teatro Rival