Pepeu Gomes apresenta canções instrumentais inéditas em Curitiba

Lendário guitarrista também recordou Novos Baianos e primeiro Rock in Rio

Curitiba recebeu na última quarta-feira (18 de abril) no Teatro do Paiol um dos maiores guitarristas da música popular e instrumental brasileira. Acompanhado do filho Felipe, também na guitarra, o músico baiano aproveitou para exibir quatro canções inéditas instrumentais, que deverão fazer parte do seu próximo trabalho. As canções exibiram o genuíno estilo que consolidou Pepeu Gomes internacionalmente, diferente do pop rock que desenvolveu na década de 1980 e com atmosfera próxima aos improvisos realizados nos Novos Baianos na década de 1970. Pepeu foi da MPB ao Reggae e finalizou com o Hard Rock.

Entre as canções, o consagrado músico baiano conversou com o público, formado por músicos, estudantes de artes, jornalistas e fãs. Além de questionamentos a respeito de equipamentos e técnicas, Pepeu falou bastante sobre a carreira. “O primeiro instrumento que toquei, eu mesmo desenvolvi. Era um pedaço de pau com um arame esticado. Na época não tinha dinheiro”, afirmou.

Para ele, o divisor de águas foi um álbum do Jimi Hendrix que ganhou de presente do amigo Gilberto Gil. “Na época eu tocava baixo. O Gil me deu o LP do Hendrix e passei a noite escutando. Dormi baixista e acordei guitarrista. Em pouco tempo aprendi as músicas. O Gil me questionou como consegui aprender em pouco tempo, pois ele fazia um mês que tentava. Não sei como aconteceu. Peguei a guitarra e sai tocando. Acredito que seja algo de Deus”, disse.

Sobre os Novos Baianos, que ajudou a desenvolver na década de 1970 ao lado de consagrados nomes como Moraes Moreira e a então Baby Consuelo (atual Baby do Brasil), Pepeu falou sobre as dificuldades do início de carreira. “Morávamos em um sítio que havia um pomar de laranjas e uma plantação de maconha. Vivíamos assim. Quando ganhamos um bom dinheiro com o álbum ‘Acabou Chorare’ continuamos na mesma rotina, pois gastamos tudo em uniformes de futebol. Para nós era mais importante”. Vale mencionar que o ‘Acabou Chorare’ chegou ao primeiro lugar na eleição dos 100 maiores discos da música brasileira feita pela Rolling Stone, principal publicação do segmento.

Outra passagem de grande importância na sua carreira foi a primeira apresentação no Rock in Rio de 1985. Ele recordou a hostilidade do público heavy metal que não queria saber de samba ou qualquer outro estilo que lembrasse MPB ou Pop. “O clima não estava bom para nós. Todos os artistas da MPB estavam sendo vaiados. Decidi na última hora optar por uma estratégia diferente. Alterei todo o set list. Inclui canções instrumentais, pesadas e com muito solo. Tínhamos 45 minutos. Quando subi ao palco me assustei. Pessoas usando camisetas com frases “Odeio George Benson”, “Odeio Al Jarreau” (famosos músicos de jazz da época). Esperava tudo. Comecei a tocar nosso repertório e acabou agradando. Fomos aplaudidos. Por causa deste show obtive reconhecimento internacional e entre os roqueiros daquela geração. Um pouco antes o Erasmo Carlos foi ao camarim e disse que não cantaria para aquele público. Ele amarelou, no bom sentido”.

A participação do Pepeu na gravação do clássico álbum ao vivo da Gal Costa “Fa-Tal”, também foi relembrada. Em 1971, o baiano tocou em algumas canções devido aos problemas de saúde que o renomado guitarrista da Tropicália, Lanny Gordin, teve devido ao uso de LSD. “Acabei contribuindo em algumas canções porque o Lanny ficou mal. Ele tomou ácido e não voltou. Na época eu tomava também, mas não tive problemas. Ele era o meu ídolo. Um guitarrista que me inspirei. Quem me apresentou foi o Gil. Ele disse que deveria conhecer porque tinha um estilo semelhante ao meu”.

Pepeu também falou sobre a tecnologia na música atual e as novas formas de comércio e divulgação. O guitarrista argumentou que conta com auxílio do filho Felipe nas redes sociais. “Ainda não sou muito íntimo, mas estou me adaptando. Nós que somos mais velhos, temos que absorver as mudanças. Gostava de apreciar um disco pesquisando quem tocou o que na ficha técnica, com capa e letras. Hoje não temos mais isto. A internet tem muita coisa ruim. Mas hoje estamos aqui por causa da divulgação no Facebook. Nesta questão houve muita evolução”.

Pepeu Gomes participou do evento “Música, Paixão e Tecnologia” de iniciativa da Cactus Raius Arte & Rock’n’Roll e Creation FD, com incentivo do PROFICE, Governo do Paraná, e apoios da Havan e da Fundação Cultural de Curitiba. A série de workshows contou também com o ex-guitarrista do Dr. Sin, Edu Ardanuy, Edgard Cabral e Raul Misturada.

André Molina: Texto e foto