Sepultura apresentou canções de todos os álbuns em Curitiba

Banda se prepara em 2019 para novo disco e Rock In Rio

Redigir uma resenha a respeito de um show do Sepultura sem cair em alguns clichês e driblar o senso comum não é uma tarefa fácil. Não é novidade de que a banda de heavy metal seja o nome brasileiro da música mais consagrado nos demais países do mundo. E que seguramente foi o que mais pisou em países de continentes diferentes. Não foi como alguns cantores da MPB, que atraíram meia dúzia de brasileiros em alguns bares europeus e norte-americanos e saíram se gabando e fazendo propaganda pelo país. Os caras lotam estádios, arenas, se apresentam em países da Ásia, Oceania e do Oriente Médio. A Europa e os Estados Unidos se tornaram rotinas.

São informações que caem no senso comum, mas que sempre é bom recordar. Nos seus quase 40 anos de trajetória, o grupo conquistou muitas vitórias, amargou derrotas, caiu e se levantou. Após atingir o auge no meio da década de 1990, sofreu a polêmica saída de Max Cavalera e se adaptou ao vocalista Derrick Green, que apesar de ter amargado uma rejeição duradoura, já completa 20 anos de banda e atingiu a maturidade no Sepultura, sendo hoje o dono indiscutível do microfone. São os clichês naturais da história do Sepultura, mas que sempre serão expostos em uma resenha.

E o que dizer do show em Curitiba. Que o guitarrista Andreas Kisser é um músico versátil e conquistou méritos ao assumir a liderança da banda mineira? Que o baixista Paulo Jr. carrega a identidade da banda ao ser o único membro original? Que o vocalista Derrick Green superou o fantasma do cantor original Max Cavalera? Que o baterista caçula Eloy Casagrande é um fenômeno em seu instrumento, se tornando um dos maiores do seu estilo no cenário mundial? Aliás…Não dá para deixar de repetir a opinião em relação ao Eloy. O jovem músico renovou o estilo do Sepultura. Mesmo com a ingrata tarefa de substituir Igor Cavalera, que foi importantíssimo para a construção da identidade da banda, Eloy atualizou o estilo sem deixar de respeitar a história do Sepultura. Não se pode esquecer que Eloy ingressou na banda no lugar de Jean Dolabella, que gravou dois álbuns com Sepultura após a saída de Igor.

São opiniões que não apresentam nenhuma novidade aos fãs que acompanham a carreira na banda nas últimas três décadas e, até mesmo, aos mais novos que ingressaram nesta viagem há pouco tempo.

Verdade deve ser dita. Quando o Sepultura enfrentou crises, inclusive no país de origem, foi procurar outros mercados, pois o mundo é muito grande, ainda que agora nem tanto para esta banda mineira, que foi pioneira ao misturar o estrangeirismo do heavy metal com o regionalismo do samba, baião e outros ritmos nacionais.

Após obstáculos enfrentados com mudanças de integrantes, gravações de álbuns que não agradaram tanto seus fãs, como “Roorback”, “Nation” e “Against”, a banda brasileira retomou seu espaço com longas turnês mundiais, que só dão pausa quando chega o momento de gravar um novo disco, em um cenário em que o consumo por mercadorias, como LPs e CDs cai cada vez mais.

Com “Machine Messiah”, não é novidade que o álbum tenha atingido seu objetivo. Ao agradar público e crítica, o trabalho originou muitos shows, colocando o Sepultura não só nos maiores festivais estrangeiros, como também em cidades do interior do Brasil. Com eles, o heavy metal brasileiro chegou a todos os cantos.

Em Curitiba não foi diferente. Já estava até esquecendo de analisar a apresentação realizada na noite deste sábado (09 de fevereiro) na Live Curitiba, ao lado das cativantes e consagradas bandas curitibanas Motorocker e Hillbilly Hawride , neste encontro de motociclistas.

Ao lado dos clássicos de sempre como “Roots Bloody Roots”, “Refuse\Resist”, “Territory”, “Arise” e demais, o grupo contemplou o público com canções de todos os álbuns em ordem cronológica. Iniciou com clássicos do death metal como “Bestial Devastation” e “Troops Of Doom”, sem esquecer a nostálgica introdução “satanista”, “The Curse”, do EP adolescente do Sepultura de 1985.

Em seguida, vieram “Escape To The Void”, do “Schizophrenia”, que contagiou os fãs mais antigos da banda, “Beneath The Remains”, do álbum de mesmo nome, “Dead Embryonic Cells”, do matador “Arise”, que lançou o Sepultura tardiamente no Brasil no Rock in Rio II em 1991, após a banda se consagrar internacionalmente. Pois é… Outro clichê conhecido: a banda se tornou conhecida antes na Europa e nos Estados Unidos do que no Brasil.

E para fechar a fase “Max”, “Territory” do avassalador “Chaos AD” e “Attitude” do heavy metal “regional” de “Roots”.

Já na metade do set list, o público conferiu a fase Derrick Green, que iniciou em 1998. “Against” e “Choke” do álbum “Against”, “Sepulnation” do “Nation”, que foi lançado no Rock in Rio III, de 2001, e canções que fazem parte dos discos “Roorback”, “Dante XXI”, “A-Lex”, “Kairos”, “The Mediator” e “Machine Messiah”.

Com o jogo ganho, a banda tocou sucessos no momento do Bis. Foi uma apresentação com clima de fechamento de turnê que atingiu êxito, pois a banda se prepara para gravar novo disco.

No segundo semestre, um dos principais compromissos da agenda é apresentação em mais uma edição do Rock in Rio, no palco mundo e ao lado de expoentes do heavy metal como Iron Maiden, Scorpions e Megadeth, que atualmente conta também com um guitarrista brasileiro: o virtuoso Kiko Loureiro, fundador do Angra.

Foto: Clovis Roman/Assessoria