Titãs inova ao apresentar ópera rock com temas atuais

Grupo recorda lado teatral do início de carreira e se reinventa

A pré-estreia da ópera rock “Doze Flores Amarelas” da banda Titãs demonstrou um trabalho ousado pouco comum nos cenários do rock nacional e da MPB da atualidade. Realizada no Festival de Teatro de Curitiba, no Teatro Guaíra, na última quarta-feira (04 de abril), a mistura de show de rock com peça teatral aborda temas como aplicativos, redes sociais, abuso, assédio sexual e comportamento da juventude. Porém, o espírito oitentista dos Titãs está impresso ao fazer uma referência indireta à época em que o grupo foi formado com oito integrantes e apresentava performances teatrais.

Noventa por cento das músicas é composta pelos remanescentes Sérgio Britto, Toni Belloto e Branco Mello. Uma das surpresas fica por conta do guitarrista Tony Belloto, que assumiu pela primeira vez em mais de 30 anos de carreira, o vocal em uma canção.

Para ilustrar, a ópera rock conta com narrativa da cantora Rita Lee em áudio. Vale dizer que Beto Lee, filho da cantora, assumiu a outra guitarra. A banda ainda conta com o baterista Mario Fabre, que já tinha assumido as baquetas no consagrado álbum anterior “Nheengatu”.

Um dos charmes de “Doze Flores Amarelas” é a interação entre as atrizes e cantoras Corina Sabba, Cyntia Mendes e Yas Werneck, que representam as “Três Marias” que foram violentadas e que são responsáveis por todos os backing vocals.

Os arranjos de cordas e regência são do consagrado Jaques Morelenbaum, que já trabalhou com diversos expoentes da Música Popular Brasileira.

Nas 29 canções, percebem-se elementos que integram o estilo dos Titãs que foi desenvolvido no decorrer das décadas de 1980 e 1990. Há o punk rock, a balada, as metáforas e poesia que recorda o álbum “Õ Blésq Blom”, de 1989.

Não se sabe se as canções funcionam de maneira individual. Pois cada uma compõe parte da história. Será um álbum para ouvir do início ao fim, assim como trabalhos da década de 1970. Existe uma atmosfera dos LPs “Thick As a Brick” do Jethro Tull e “The Wall” do Pink Floyd. “Doze Flores Amarelas” é conceitual, formato que demonstra ousadia caso a preocupação seja os fins comerciais.

Uma das canções chamou a intenção do público com aplausos além do comum. Cantada por Sergio Britto, “Me Estuprem” surpreendeu por ser uma balada com tema polêmico e que causa desconforto em alguns, fato comum ao trabalho dos Titãs do fim da década de 1980. Aliás, o tema central da peça pode provocar discussões ideológicas de diferentes espécies nas redes sociais. Comportamento corriqueiro nos dias de hoje.

Por se tratar de um espetáculo do Festival de Teatro de Curitiba, houve parte do público formada por atores, aspirantes e gente da cena que sugeriu “mais texto e atuação”. Outra opinião foi “há muita música”. Já os fãs dos Titãs receberam muito bem por se tratar de um trabalho ímpar na “discografia” da banda. A verdade é que independente de opiniões diversas, o grupo paulista conseguiu promover o equilíbrio entre teatro e espetáculo musical.

Se algo faltou foi um detalhe. Com um cenário simples e eficiente, poderia ter sido disponibilizadas legendas das letras das músicas em um telão, por exemplo, para o publico acompanhar. Pois ao ouvir canções pela primeira vez executadas por uma banda de rock é normal que algumas passagens das letras não sejam percebidas. E no caso de uma Ópera Rock, as composições são essenciais para a percepção da obra.

Texto: André Molina
Foto: Facebook oficial dos Titãs